domingo, 1 de setembro de 2013

DOSSIÊ FLAMENGO | Parte 1 - A Globo e o Regime Militar.

No dia 15 de março de 1994, o então ex-governador Leonel Brizola entraria para a história das telecomunicações ao ganhar na Justiça o direito de resposta à Rede Globo, que numa de suas inúmeras tentativas de manipulação da massa, havia anunciado sua morte da única ameaça de eleição do seu candidato preferido. 

Cid Moreira, com sua impecável voz, para um share de 68% de audiência, declarou no Jornal Nacional: "Tudo na Globo é tendencioso e manipulado. Não reconheço a Globo autoridade de matéria de liberdade de imprensa, e basta para isso olhar a sua longe e cordial convivência com os regimes autoritários e com a ditadura de 20 anos que dominou o nosso país."




É inegável que ainda hoje ela seja a maior empresa de telecomunicações do Brasil e do mundo. Seu poder de entrar na casa das pessoas e influenciar criando padrões, costumes, estabelecendo moda, e principalmente, moldar as notícias pode meio de mensagens subliminares em suas novelas e do seu padrão jornalístico é imbatível. Pessoas se vestem ou falam como personagens de novelas, outras acreditam na notícia dada como verdadeira no Jornal Nacional sem ao mesmo pesquisar as circunstâncias atenuantes. Astros e celebridades continuam despontando graças à indicação Global. 

Uma das maiores manchas que a Rede Globo tenta esconder ainda hoje é o seu envolvimento quase meretrício com o Regime Militar que governou a ferro e fogo o país durante as décadas de 60 a 80. Em 1991, o jornalista Gabriel Priolli lançou o livro O Campeão de Audiência, que tinha como objetivo homenagear outro jornalista, ex-funcionário da emissora carioca, Walter Clark. Sem querer, o livro serviu de base para esclarecer o que todos desconfiavam: que a relação entre o regime militar e a emissora da Família Marinho eram mais emaranhadas que nunca.  A relação meretrícia envolvia jogos de favores que poderia ser a não exibição de matérias que prejudicasse os milicas, enquanto em troca, o regime proibia por meio de Leis e prisões manifestações artísticas que não fosse do agrado da Globo. Enfim, a internet está cheio de informações interessantes além de cópias de teses universitárias que mostra como foi essa relação vergonhosa. 


TV Tupi
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Até finais da década de 70 quem dominava o Brasil em audiência era a emissora paulista a Rede Tupi.  Com uma televisão voltada ao entretenimento com novelas e programas de auditório, a emissora paulista tinha a preferência do público com grandes artistas e tinha as maiores retransmissoras do país. Contudo, após a morte de Assis Chateubriand, seu carismático fundador, a emissora foi acumulando fracassos e dívidas, e sofrendo inexplicáveis cassações de retransmissão pelo Governo Militar.

Enquanto isso, a Rede Globo crescia assustadoramente. As concessões de TV eram fornecidas pelo Regime Militar à rodo, sem nenhuma explicação, ao mesmo tempo em que as concessões da Rede Tupi eram cassadas. O golpe final veio com o incêndio do prédio em São Paulo! Era o fim de uma das maiores emissoras de TV do mundo.  Foi nesta esteira do sucesso que a Rede Globo iniciou sem império!

Mas o que o Flamengo tem a ver com isso?

Devido a concessões cassadas pelo Regime Militar a TV Tupi começou a definhar.



Flamengo.
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Declarar que todas as conquistas do Flamengo foram por causa da Rede Globo é uma injustiça grande com a equipe técnica que atuou no time nestas conquistas. É óbvio que o time teve seus méritos e o Flamengo de 1981 realmente encantou o mundo com um timaço. Contudo, este é o ponto de partida que começa nossa história. A Rede Globo e o Regime Militar viu no Flamengo a chance de manipular as massas e fazê-la esquecer das mazelas que os militares cometiam àquela época tanto no campo da Justiça como na Economia. 


Livro de Walter Clark que mostrou a relação entre a Globo e o Regime Militar, que transformou a emissora paulista na maior e mais influente do Brasil conforme reportagem de Veja.



Em 1981 o Flamengo montou um timaço que tinha como estrelas Zico, Mozer, Júnior, Marinho, Andrade, Leandro, entre outros. O time venceria tudo a que teve direito: do badalado campeonato carioca até chegar ao Mundial depois de vencer o Liverpool. 

Com praticamente todas as retransmissoras da extinta Tupi no Nordeste, a Rede Globo percebeu que poderia aumentar sua audiência por meio do futebol. O jornalista Roberto Marinho que àquela época já andava de braços dados com os generais utilizando os microfones de sua emissora para calar a boca da oposição  e de todo aquele que resistia ao autoritarismo da época, viu no Flamengo a oportunidade de obter mais benefícios do Regime Militar.

A partir da década de 60 o Campeonato Carioca começava a despontar como o mais importante do país. Curiosamente até a década de 70 todos os times possuíam um equilíbrio de popularidade. Uma pesquisa da revista Placar - que na década de 70 tinha uma importância relevante no cenário nacional - junto com o Instituto Gallup, trazia a seguinte amostra da torcida no Rio de Janeiro. Até o América-RJ tinha uma grande e impressionante torcida, superior, inclusive a do Botafogo.

  • Flamengo 28%
  • Fluminense 18%
  • Vasco 17%
  • América 6%
  • Botafogo 5%
  • Bangú 2%
  • Outros 2%
  • Nenhum 22%

A Rede Globo observou e focou no "Nenhum". Eram 22% de uma população que ao invés de estar brigando e protestando contra as mazelas do Governo Militar, poderia estar vibrando com o futebol. O Flamengo de 1981 deu à chance à Globo de oferecer aos generais a resposta aos seus problemas.  Por meio do futebol, daria ao povo, uma política semelhante ao romano "panis y circenses". Às mulheres dariam novelas, aos homens daria o futebol focado no maior time da atualidade, o Flamengo.


 


A Globo viu que o time do Flamengo encantava não só sua torcida no Rio, mas em todo o país, que via na base do time a montagem de uma Seleção Brasileira competitiva. A idéia da Rede Globo era transformar a admiração em idolatria.

A investida não deu muito certo em São Paulo, afinal, o campeonato paulista também era forte e o Corinthians imbatível na popularidade, inclusive no Sudeste onde disputava torcidas no Paraná e Santa Catarina. O Rio Grande do Sul, com sua política separatista, em grande parte influenciada pela proximidade com a Argentina, também resistiu à campanha global pelo Flamengo. 

Infelizmente, coube à região mais pobre do país, o Nordeste, o impacto da propaganda militar da rede Globo para transformar o Flamengo no mais popular do Brasil.  E sobre isso falaremos no próximo post.
 

 


Um comentário:

Unknown disse...

Esqueceu do Jose Roberto Wright...

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