sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O DIA QUE APRENDI O CAMINHO TORTUOSO DE SER HONESTO E VERDADEIRO.

 
A verdade. Desde pequeno somos exortados a falar sempre a verdade. "Deus gosta de crianças que falam a verdade." "Somente quem é honesto vai para o céu." E assim aprendemos que a verdade é um caminho correto a se seguir, mas tem o seu preço. Isso me fez lembrar um episódio da minha vida, quando eu devia ter uns sete, oito anos,  que aprendi isso na prática.
 
 
Minha vó costumava fazer presépios semelhantes a este, que incluam, pasmem,
lindos e sedutores carrinhos de corrida do tipo Hot Wheels.
 
 
 
Minha vó materna era uma daquelas católicas fervorosas, do tipo beata de ficar bajulando o padre o dia inteiro, de promover bingos, festinhas e afins. Todo final do ano, os sobrinhos da imensa familia Lago se reunia em sua casa na Ilha de Itaparica, na Bahia. Era um momento muito legal, afinal, éramos primos demais, dormiamos - quando dormíamos - um em cima do outro, enfim, uma festa daquelas. E minha vó, como católica, tinha o hábito de fazer o seu presépio. Era um presépio enorme, bonito, cheio de flores, cruzes, panos e... brinquedos. Sim, carrinhos do tipo Hot Wheels - eu não sei o que carrinhos faziam num presépio, mas minha vó colocava - que fazia os nossos pobres e inocentes olhos brilharem. Mas ninguém tinha coragem de pegar, porque o que minha vó tinha de católica, tinha de brava, e tomar uma surra da minha veinha era algo que nunca queriamos passar.
 
Mas não é que tive coragem?
 
Pois é, passei a mão num carrinho de corrida, porque imaginei que de tantos carrinhos, ela não ia perceber. Lego engano. No dia seguinte, todos acordando, minha tia preparando as três duzias de paes pra mulecada e minha vó grita da sala... "Quem pegou um carrinho do meu presépio???".
 
Pausa dramática. Todos os olhos arregalados. Um olhando para o outro e se perguntando que teria sido o idiota que cometeu essa imbecilidade? Ninguém se entregou, óbvio, principalmente eu. Então veio o castigo generalizado. Enquanto o carro não aparecesse, ninguém iria jogar bola, ninguém iria para a praia, ninguém não ia fazer nada. Todos ficaram revoltados, começou um festival de acusações falsas, outras acusações in-jus-tas contra minha pessoa, mas suportei bravamente.
 
Mas aí veio minha querida tia Vanda, juntou todos no quarto, e falou as palavras tocantes mencionadas no primeiro parágrafo. E no fim, ainda garantiu: quem falar a verdade e entregar o carrinho não vai apanhar!!!
 
Quem foi o honesto que se entregou para felicidade geral da nação?? Sim, euzinho. Todo cheio das boas intenções, honesto, veraz, entreguei o carrinho e pedi desculpas pra todo mundo.
 
Final feliz?
 
Nem bem terminou eu só vi minha vó saindo do quarto com uma cinta na mão, me levou pro canto e disse as palavras aterradoras: sua tia prometeu que não ia te bater; eu não! E sapecou a cinta em mim deixando marcas profundas que hoje a ECA diria se tratar de espancamento infantil. "Isso é pra você aprender a nunca mais roubar nada dos outros!"
 
Moral da História: Não roubei mais nada de ninguém, desde então, e não me tornei ladrão! Levando por este lado pode ser que a surra tenha surtido seu efeito. Mas por outro lado aprendi que a honestidade e a verdade é uma virtude divina...
 
                                                                               ...mas poderia ser menos dolorosa!
 
 

Um comentário:

Fillipe Mak disse...

Haeauehauh
Muito bom!
Apesar da temática séria, não pude deixar de rir com a inocência d criança, e sentir saudade dos tempos onde a única preocupação era correr pela casa com os abraços abertos dizendo ser um avião.
Aprendi a mesma lição de uma forma similar. Mt bom relembrar.
O q seríamos de nós se não fossem as surras q levamos hein... rsrsrs

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